O fato mais óbvio sobre o louvor, porém — seja de Deus, seja de qualquer coisa — estranhamente me escapara. Eu o considerava um tipo de elogio, aprovação, ou honra. Jamais eu percebera que toda a alegria transborda espontaneamente em louvor a não ser que se permita deliberadamente que a timidez ou os medos de entediar os outros o refreie.
O mundo ressoa de louvor: apaixonados louvam suas amadas; leitores, seu poeta favorito; caminhantes, a paisagem; esportistas, seu jogo predileto — louvor do tempo, dos vinhos, dos pratos, dos atores, dos motores, dos cavalos, das universidades, dos países, de personagens históricos, de crianças, flores, montanhas, selos raros, besouros exóticos, e às vezes até de políticos e professores. Eu ainda não tinha percebido como as mentes mais humildes, e ao mesmo tempo mais equilibradas e abertas, louvavam mais, enquanto as rabugentas, desajeitadas e descontentes louvavam menos. Nem percebera eu que, assim como as pessoas louvam espontaneamente o que quer que valorizem, elas espontaneamente nos incentivam a nos juntar ao seu louvor: "Ela não é linda? Não foi espetacular? Você não acha que foi maravilhoso?"
Os salmistas, ao dizerem a todo mundo que louvem a Deus, estão fazendo o que todas as pessoas fazem quando falam do que ocupa sua atenção. Minha dificuldade maior e mais geral com o louvor de Deus dependia do absurdo de querer negar, no que tange ao Valor Supremo, o que gostamos de fazer, o que na verdade não conseguimos deixar de fazer, acima de qualquer outra coisa que valorizamos. Creio que gostamos de louvar o que nos alegra porque o louvor não apenas expressa mas completa a alegria; ele é sua consumação pretendida. Não é pelo elogio que os apaixonados continuam dizendo um ao outro como são belos; o prazer não se completa enquanto não é expresso.
C. S. Lewis, Reflections on the Psalms
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