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Mostrando postagens de janeiro, 2020

A base das mitologias

Em Marte as próprias florestas são de pedra; em Vênus as terras nadam. Pois agora ele já não pensava neles como Malacandra e Perelandra. Ele os chamava pelos seus nomes telurianos. Com um assombro profundo, pensou consigo mesmo: "Meus olhos viram Marte e Vênus. Eu vi Ares e Afrodite." Ele lhes perguntou como chegaram ao conhecimento dos antigos poetas de Tellus. Quando e de quem os filhos de Adão aprenderam que Ares era um guerreiro e que Afrodite surgiu da espuma do mar? A Terra tinha ficado sitiada, um território ocupado pelo inimigo, desde antes do início da história. Os deuses não têm nenhuma comunicação lá. Então como temos conhecimento deles? O conhecimento, disseram-lhe, chega depois de muitas voltas e através de muitos estágios. Existe um ambiente de mentes, assim como um de espaço. O universo é um: uma teia de aranha em que cada mente vive ao longo de cada fio, uma enorme galeria sussurrante em que (salvo pela ação direta de Maleldil), embora nenhuma notícia s

A diferença entre crer em Deus e crer em vários deuses

Como temos visto, inclusive nos mitos da criação, os deuses têm um começo. A maioria deles tem pais ou mães; às vezes conhecemos seu lugar de nascimento. Não se cogita que existam graças a si mesmos, nem que existam desde sempre. Ser é algo que lhes é imposto, como a nós, por causas prévias. São como nós, criaturas ou produtos; ainda que tenham tido mais sorte que nós por serem mais fortes, mais belos e estarem isentos da morte. Em outras palavras, a diferença entre crer em um Deus ou em muitos deuses não é apenas uma diferença aritmética. Ou seja, deuses não é o plural de Deus; Deus carece de plural. C. S. Lewis Reflections on the Psalms

Livros — Cartas a uma senhora americana e Cartas a Malcon

Dado o seu conteúdo informal, este pode ser o livro mais singelo de C. S. Lewis. Seu modo de ser, as coisas que conta sobre o seu dia a dia e demais pensamentos constantes nas cartas revelam sua visão a respeito de diversos assuntos, bem como sua serenidade e sensibilidade. As cartas são correspondências enviadas por Lewis a uma mulher americana com quem ele manteve contato por vários anos e que mais tarde, após serem compiladas, vieram a ser publicadas. Mesmo que somente as cartas de Lewis constem no livro, não é difícil se inteirar com o conteúdo primário das cartas da senhora por meio das respostas que Lewis oferece. Já em Oração: Cartas a Malcon, e ao contrário do livro anterior, as cartas são fictícias, e também constam apenas as respostas de Lewis. Tratam principalmente sobre oração, mas abordam também outros assuntos. Este modelo de romance epistolar fora um artifício já utilizado anteriormente por autores como Jane Austen, a qual Lewis admitia gostar bastante.

A pronúncia é "Asslam"

Magdalen College  Oxford  Querida Carrol, De bom grado respondo a sua pergunta. Encontrei o nome "Aslam" nas notas da versão de Lane¹ para "As mil e uma noites". Significa leão em turco. Eu o pronuncio "Asslan" e claro que me refiro ao Leão de Judá. Que bom que você gostou de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. Espero que também goste da continuação que será publicada em novembro. Saudações.  C. S. Lewis  26 de janero de 1953 ¹ Edward William Lane, criou sua própria tradução de As mil e uma noites

A experiência de ler para os literatos

Um traço característico do homem literalmente iletrado¹ é que ele considera "Eu já li isso" um argumento conclusivo contra a leitura de qualquer obra. Todos nós conhecemos mulheres que lembram tão nebulosamente de um dado romance que precisam despender meia hora em uma biblioteca folheando-a, antes de ter certeza de que já o leram. Mas no momento em que têm segurança disso, rejeitam-no imediatamente. Para elas, o romance morreu como um fósforo riscado, um velho bilhete de trem ou um jornal de ontem; elas já o usaram. Aquele que leem grandes obras, em contrapartida, lerão a mesma obra dez, vinte ou trinta vezes ao longo de suas vidas. A primeira leitura de uma obra literária para os literatos² é, com frequência, uma experiência tão importante e significativa que apenas experiências como o amor, a religião ou o luto podem servir como parâmetro de comparação. Toda a sua consciência é alterada. Eles se transformam no que não eram antes. Mas não há nem indício de algo as

Sobre a ordem de leitura

Tudo mostra que C. S. Lewis não se importava com nuances que envolviam As Crônicas de Nárnia . Me lembro de que há algum tempo, em fóruns sobre Nárnia na internet, haviam debates sobre a melhor ordem de leitura. Mesmo que houvessem divergências, existiam consensos, como o de que livros como A Última Batalha, por exemplo, não devessem ser lidos primeiro, mas, por via de regra, para a maioria não existiam problemas maiores em começar tanto por O Leão, a Feiticeira... quanto por O Sobrinho do Mago. Mas parece que para C. S. Lewis, nem mesmo estas questões eram importantes. A carta abaixo foi enviada a um jovem leitor que defendia que a leitura das crônicas deveria ser feita em ordem cronológica, enquanto que sua mãe pensava que deveriam ser lidas pela ordem de publicação. Lewis deu o seu parecer e ainda contou um pouco sobre seu processo de criação. Ao final, ele conta um pouco de como foi sua Páscoa e a situação da saúde de sua esposa, Joy. 23 de abril de 1957 Caro Lawrence